Noite feliz, dormir na casa de uma tia que eu amava...
Uma pessoa arrojada, dona da sua vida, pra época a chamaríamos de moderna;
Como eu a admirava, como gostava dela, de estar perto dela.
Era o meu espelho, a pessoa que eu sonhava parecer um dia.
Nos gestos nobres , na doçura, no respeito com que me tratava.
Mais que uma tia, uma amiga.
E ele o tio, alguém que eu considerava muito especial também.
Alguém a quem eu considerava como um tio de sangue.
Bom, gentil.. amável...
Tudo certo, iria dormir na casa deles, não me importava de dormir no sofá.
Minha alegria era dormir a acordar ao lado da minha tia.
Eu só tinha 11 anos, uma menina...na idade e nas atitudes.
Foi muito bom...até que...
Fomos dormir, eu sempre tive um sono frágil. Ao menor barulho acordava, a um toque então...
Por menor que fosse ja me despertava.
Acordei na madrugada, sentindo que algo me tocava.Abri os olhos ainda embaçados de sono e vi em pé diante de mim, no sofá da sala, aquele homem nojento.
Com sua respiração amedrontadora, ele bufava feito um bicho excitado...
estava me descobrindo, retirava delicadamente o lençol de cima de mim e por isso encostou em mim.. Completamente nu , ele me observava, e se masturbava.
Tive nojo, medo, vergonha... Mas encontrei forças e perguntei o que ele pretendia.
Ele não me respondeu e continuou a se tocar, me olhando com aqueles olhos de monstro.
Nunca me esqueci da sua respiração, tenho pesadelos as vezes.
Então eu lhe disse que ia chamar minha tia no quarto em frente, adormecida , depois de um dia de trabalho.
Ele então mudou o olhar de excitado pra raivoso.
E saiu em silencio...Dirigindo-se ao quarto.
Chorei o resto da noite, sufocando minhas lagrimas com o travesseiro. Os soluços eu engolia como um fel que escorria garganta abaixo, me envenenando a alma, matando minha inocencia.
Na manhã do dia seguinte, agiu como se nada tivesse acontecido. Eu nunca contei nada a ninguém.
Não acreditariam em mim...
Nunca...
E assim se sucederiam os assédios...
Me machuca ainda me lembrar disso.Mas hoje convivo bem com essa dor.
Eu venci, venci o medo, venci o horror, venci o nojo que tinha de sexo.
Hoje vejo tudo diferente.
Antes me sentia culpada, hoje sei que eles eram os monstros, e eu apenas a vitima inocente.
Sandra Botelho