É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo." (Clarice Lispector)

sábado, 29 de janeiro de 2011

O pior almoço

Como fui criada com simplicidade e miséria, nunca tinha me sentado a mesa pra comer
Sempre pegavamos nosso pratinho e sentavamos no quintal ou em um canto da casa, no chão mesmo.
Nunca tinhamos usado talheres, comiamos com as mãos.
Quem nunca foi miserável talvez se assuste, mas era assim mesmo.
Bom, quando vi aquela mesa arrumada, com pratos copos, talheres, não entendi muito bem o que era aquilo, talvez uma festa pra comemorar minha chegada.
A empregada me sentou em uma cadeira, ao lado de um dos tres meninos(filhos do casal)
Eles me olhavam sem parar, eu timida e absolutamente envergonhada, queria sumir dali, correr pra minha casa e pros meus irmãos. Sentia saudade já. E uma melancolia imensa.
A mãe começou a me servir, nunca vi tanta coisa em uma só refeição,.me perguntava :o que eu queria comer e eu queria tudo claro, estomago de pobre não tem tamanho dizia minha mãe...rsrs
Todos me olhavam...Quando ela colocou o prato sobre a mesa, eu não sabia o que fazer, então fui comer com as mãos mesmo.
Todos ficaram horrorizados, me olhavam como se eu fosse um bicho.
Ele(pai adotivo) me disse que não era pra comer com as mãos, mas com os talheres, eu disse que não sabia usa-los.
Ele então me deu uma colher e disse veja como faço e faça igual. Por hoje comerá com a colher, mas a partir de amanha começara a comer com os talheres todos, a empregada vai te ensinar. Minha mãe me olhava como se olha pra um inseto nojento.
Lagrimas me vieram aos olhos e foi tão dificil conter o choro.
Meus irmãos(riam) e eu me sentia um bicho
A noite depois de me ajeitarem no sofá, eu ouvi ela dizer...
Você trouxe um bicho pra casa
Passei a noite chorando. pedindo a Deus que me tirasse dali e implorando que me perdoasse a ingratidão.
Sandra

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Em casa estranha, Mãe adotiva ...Decepção!



E lá ia eu, sentada na garupa de um homem estranho, que dizia que dali em diante seria meu pai.
E eu me perguntava: Como ele poderia ser meu pai se eu já tinha um pai?
Um pai perverso e que nos abandonou, mas um pai.
E como poderia ter outra mãe, se a minha havia morrido? Mas não dizia nada disso a ele, sentia que tinha que ser grata, afinal ele estava me levando pra casa dele, que com certeza deveria ser bem melhor que a minha.
Por um lado eu sentia uma alegria disfarçada, mas ao mesmo tempo me sentia culpada por deixar meus irmãos pra trás.
E lagrimas vinham aos meus olhos , mas rapidamente me livrava delas. Não queria que ele me visse chorar.
Finalmente chegamos, era uma casa linda, grande, com um jardim na frente, cheio de rosas.
Uma escada levava até a porta da sala.Uma sala ampla e muito bonita.Eu estava encantada, não tirava os olhos da casa, dos móveis e ele me puxando pela mão me levou até a cozinha, onde estava a empregada, que me olhou espantada e disse: Oi menina.Eu me sentia vergonha ,então  me escondi entre as pernas dele.
Ela riu e disse, Bicho do mato.
Mas quando "minha mãe" chegou, ai sim eu me senti como um bicho do mato.
Ela trouxe de presente um sapatinho de bebe, rosa. 
Eu só fui entender aquele olhar de decepção, quando ela disse, 
Puxa pensei que fosse um bebe, ela já é grande.(6anos)
Senti que ele não havia dito a ela minha idade, e ela ficou decepcionada, porque queria um bebe. mas e agora?
Não dava mais pra devolver.
A raiva e a decepção ardiam nos olhos dela, e por alguns instantes eu queria sumir dali.Sentia que dali em diante minha vida não seria mais a mesma. Se nunca tinha tido amor de mãe, agora então isso seria impossivel.
Ele me pegou pela mão e me levou pro banho, mandou a empregada, me dar um bom banho e me dar uma roupa limpa pra vestir.
Fiquei pasma com o chuveiro, sabonete, vaso sanitario, tudo me encantava...
Depois do banho...O almoço...meu Deus foi horrivel!
Sandra

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Profunda tristeza


Existem dias... Que a dor parece fome...
Então eu a devoro toda,
e mato a sede com um sorriso!
 Porem...
Hoje nem as lágrimas me saciam!

Sandra Botelho

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Frustração


Frustração

Se eu tivesse uma arma neste momento
Teria um mundo de divertimento
espalhando balas nos cérebros, sem pudor,
dos caras que me causaram dor.

Ou tivesse eu algum gás venenoso
teria um passa-tempo gostoso
acabando com um número indigesto
de pessoas que detesto

Mas não tenho nenhuma arma mortal
Assim, a Fatalidade não me dá prazer tal.
Então eles ainda estão lépidos e fagueiros
aqueles que mereceriam o inferno por inteiro.

Dorothy Parker