É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo." (Clarice Lispector)

sábado, 5 de novembro de 2011

Nojo


Noite feliz, dormir na casa de uma tia que eu amava...
Uma pessoa arrojada, dona da sua vida, pra época a chamaríamos de moderna;
Como eu a admirava, como gostava dela, de estar perto dela.
Era o meu espelho, a pessoa que eu sonhava parecer um dia.
Nos gestos nobres , na doçura, no respeito com que me tratava.
Mais que uma tia, uma amiga.
E ele o tio, alguém que eu considerava muito especial também.
Alguém a quem eu considerava como um tio de sangue.
Bom, gentil.. amável...
Tudo certo, iria dormir na casa deles, não me importava de dormir no sofá.
Minha alegria era dormir a acordar ao lado da minha tia.
Eu só tinha 11 anos, uma menina...na idade e nas atitudes.
Foi muito bom...até que...
Fomos dormir, eu sempre tive um sono frágil. Ao menor barulho acordava, a um toque então...
Por menor que fosse ja me despertava.
Acordei na madrugada, sentindo que algo me tocava.Abri os olhos ainda embaçados de sono e vi em pé diante de mim, no sofá da sala, aquele homem nojento.
Com sua respiração amedrontadora, ele bufava feito um bicho  excitado...
estava me descobrindo, retirava delicadamente o lençol de cima de mim e por isso encostou em mim.. Completamente nu , ele me observava, e se masturbava.
Tive nojo, medo, vergonha... Mas encontrei forças e perguntei o que ele pretendia.
Ele não me respondeu e continuou a se tocar, me olhando com aqueles olhos de monstro.
Nunca me esqueci da sua respiração, tenho pesadelos as vezes.
Então eu lhe disse que ia chamar minha tia no quarto em frente, adormecida , depois de um dia de trabalho.
Ele então mudou o olhar de excitado pra raivoso. 
E saiu em silencio...Dirigindo-se ao quarto.
Chorei o resto da noite, sufocando minhas lagrimas com o travesseiro. Os soluços eu engolia como um fel que escorria garganta abaixo, me envenenando a alma, matando minha inocencia.
Na manhã do dia seguinte, agiu como se nada tivesse acontecido. Eu nunca contei nada a ninguém.
Não acreditariam em mim...
Nunca...
E assim se sucederiam os assédios...
Me machuca ainda me lembrar disso.Mas hoje convivo bem com essa dor.
Eu venci, venci o medo, venci o horror, venci o nojo que tinha de sexo.
Hoje vejo tudo diferente.
 Antes me sentia culpada, hoje sei que eles eram os monstros, e eu apenas a vitima inocente.

Sandra Botelho

4 comentários:

chica disse...

NOJO é a palavra certa mesmo.Que coisa isso! E pior é que existem tantos nojentos tarados assim... beijos,tudo de bom,chica

Deiselangblogger disse...

Só nojo vc sentiu? E a raiva, A VONTADE DE CORTAR O PÊNIS DELE FORA?
Meu Deus, eu sinto um desprezo enorme por estas pessoas, uma revolta muito grande. SÃO MONSTROS INESCRUPULOSOS, Aproveitarem-se de pessoas inocentes e indefesas, PARA SATISFAZEREM SUA DOENÇA, (porque são doentes mentais), estes seres.
Como eu gostaria de poder fazer algo, que pudesse mudar esta realidade. Mas infelizmente, ou felizmente só posso orientar as menininhas de meu convívio.

Nilson Barcelli disse...

A poedofilia é a coisa mais nojenta que há.
Ainda bem que ultrapassaste tudo isso.
Beijos, minha amiga querida.

silvioafonso disse...

Torço para que o bonito e bem
traçado conto seja apenas uma
história de monstros, trevas
e nada mais.

Parabéns.

Bjs.



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