É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo." (Clarice Lispector)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma das surras e um pouco do Pai

Me lembro que um dia, eu estava dependurada em uma arvore, que dá umas florzinhas vermelhas, e que se arranca o caulezinho dela e se chupa um mel.
Amava fazer isso...Eu e meus irmãos. Quando avistei lá longe minha mãe, era de tardezinha e eu ainda não tinha limpado a casa. Se é que se podia chamar aquilo de casa. Dois cômodos de terra batida, paredes sem reboco, uma cozinha com fogão a lenha, onde minha mãe colocava um banquinho pra eu alcançar e aquecer a comida, que se resumia em feijão adoçado. Adoçado porque sustentava mais.
Nesta cozinha tinha um armário velho e só. Comíamos com as mãos, não haviam talheres.
Um quarto com duas camas, uma de casal e outra de solteiro, uma cômoda velha, por onde as roupas vazavam. Em uma das camas dormíamos eu e meus dois irmãos, na outra minha mãe e meu irmãozinho mais novo.
As noites eram longas e insones desde que eu era criança.
Bom voltando ao assunto inicial,. Minha mãe de longe me fez aquele gesto de que eu iria apanhar se tudo não estivesse feito.E não estava. Já gelei, corri pra casa tentando ajuntar tudo. Mas não deu tempo.
 A criança dona de casa de apenas cinco anos, não podia falhar.Resultado, uma boa surra, castigo e palavras como:Você não presta pra nada, é igual teu pai.
Pai...Para mim não tinha pior referencia que meu pai..Um bêbado, cruel, que só fazia bater na minha mãe e nos espancar...Não me lembro bem do que senti, mas o que me vem ao coração quando me lembro desse episódio é que minha mãe nunca gostou de mim.Não só pela surra que levei, mas pelo olhar que ela sempre me lançava. Aos cinco anos já queria que eu fosse uma mulher, que cuidasse da casa e dos irmãos.
E eu só queria ter podido ser criança.
Mas não a culpo a vida dela era cruel também...
Muito trabalho, quatro filhos para criar e muitas dores...
Sandra

10 comentários:

chica disse...

Triste pedaço de vida aqui...Pena ...Lembro dessas flores...beijos,lindo dia,chica

Marcia M. disse...

entendo bem....parece que estou a me ler...hoje vejo meu pai sentado na varanda só,,,e minha mão com ele ,não há magoas...mais não háa
aquele amor que deveria se ter...
ele hoje tenta mudar,,,e nos tentamos compreender...(os netos trouxeram a mudança)e assim seguimos a vida...mais quantas marcas não ficam,não é mesmo um bom dia sandrinha!

Guida Rosa disse...

Nossa! essa história é muito parecida com a minha,quase identica,a unica diferença é que minha mâe me amava muito..
senti neste momento uma dor no peito..minha casa era exatamente assim..

Elaine Barnes disse...

Esse livro de chocolate tem seu bocado amargo ,mas, é muito bom saber que adcionado a outras misturas pode se moldar as doçuras e se transformar em um novo sabor.
Você é a prova viva disso.
Montão de bjs e abraços

Anônimo disse...

Triste amiga, mais ainda te admiro, li todos os posts!

Majoli disse...

Minha doce Chocolate, lágrimas insistem em rolar aqui em minha face...
Já sabia um cadinho, que você me contou pessoalmente, agora ao te ler, me bateu uma dor...
Mas muitas vezes é preciso a gente desabafar, colocar pra fora e assim aliviar um pouco as marcas, as dores.
Amo você.
Beijos cheios de ternura no teu ♥

Amo você, muito.

Javier Muñiz disse...

Hola bella entrada, bello blog,te encontré en un blog común,si te gusta la poesía te invito al mio,será un placer,es,
http://ligerodeequipaje1875.blogspot.com/
muchas gracias, buena tarde,besos.

Chris B. disse...

Não tem uma vez que eu te leia e não saia com os olhos marejados e o coração apertado!

Beijo especial.

Phivos Nicolaides disse...

Oi querida amiga Sandra. Lindo. Abracos.

Anônimo disse...

Veja,mas com todo esses percalços vc... hoje, uma mulher... consegue passar doçura e compreensão.
De fato atribuir a uma criança esse tipo de responsabilidade é triste,rouba-se um pouco da infância e amadurece de uma forma dolorosa.
A gente fica triste e se aborrece mas...vc continuou... sem desvios e com um caráter invejável.
Beijos minha linda.